quinta-feira, 15 de outubro de 2020

CONTEMPLANDO DEUS NAS COISAS SIMPLES DA VIDA

Passava das seis horas da manhã de sábado quando Agostinho abriu a porta dos fundos de sua casa, desceu as escadas em direção a cozinha;fez os primeiros  preparativos do café da manhã e depois caminhou até o quintal; chegando ao terreiro,abriu os braços, olhou para o céu,espreguiçou-se e bocejou bem alto – com certeza  havia dormido "o sono dos justos" - em seguida fechou os olhos e agradeceu a Deus por mais um dia de sua existência;uma oração  silenciosa tendo como fundo musical as mais belas “cantorias”; uma mistura de melodias e ritmos vindo da natureza. 

Aquela cena fazia parte do cotidiano. Como em um ritual,Agostinho costumava acordar cedo – mais precisamente às seis horas - ia direto para cozinha externa que ficava na parte inferior da casa; fazia uma bucha de galhos secos - quase sempre recolhidos em seu quintal - em seguida pegava os pedaços de lenha, cortava-os  para adequá-las ao fogão, acendia o fogo, colocava água na panela para o café e ao lado a velha  cuscuzeira cheia de flocos de milho e enquanto o fogo fazia sua parte ele aproveitava para fazer sua oração no quintal da casa.

O canto dos pássaros, o assovio suave do vento balançando as plantas; a presença de Deus naquele lugar era óbvio! Simples, belo e harmonioso. Um quintal enorme, uma área aproximadamente de dois mil metros quadrados; ornamentada por Agostinho com as mais variadas espécies de plantas frutíferas e florais, que por sua vez atraiam as mais diversificadas espécies de animais, inclusive insetos. 

Aquele lugar era o seu Paraiso. Os exemplares de Bougainvillea em suas variações de cores se destacavam e dominavam o ambiente. Haviam vários tons de vermelho e também rosas, roxas, lilases, brancas e até bicolores - a mudança de cor Agostinho conseguira através de enxerto. Uma ao lado da outra deixava o ambiente ainda mais colorido e protegido; unindo o útil ao agradável; seus espinhos faziam parte da segurança da propriedade, coibindo a entrada de intrusos.Em harmonia com as flores lá estavam as gigantescas palmeiras imperiais,plantadas há oito anos; altas e Imponentes abrigavam pássaros de todas as espécies; Pepiras, Bem-te-vis e também os sabiás laranjeiras que costumavam fazer  ninhos em suas folhas, evitando a ação de predadores.

Ainda de olhos fechados Agostinho, respirava fundo e sentia a fragrância agradável que emanava do solo molhado; o cheiro das folhas em decomposição debaixo das árvores, exalava por todo canto, denunciando a chuva que caíra na madrugada.A harmonia entre Agostinho e aquele lugar era tão intensa, que de olhos abertos era até possível confundir-se;porém quando os fechava para meditação,ele era capaz de identificar os diferentes sons;dos cantos dos pássaros às corridas dos lagartos em meio as folhagens caídas ao chão;dos pingos de orvalho em contato com o solo às movimentações das minhocas expulsando o húmus para fora de suas casas...

De repente a sua oração foi interrompida pelos latidos dos cães.Ao abrir os olhos,olhou para o lado; percebeu a aproximação de alguém; era a pequena Sara,sua filha caçula, oito anos de idade, companheira inseparável.

-Por que o senhor não me acordou ?

-Não quis incomodá-la filha ! 

-Poxa pai ! 

Antes que ela completasse a reclamação ele a interrompeu e com um sorriso bem largo lhe disse:

- Já que você chegou,daremos continuação a oração.Venha!

Sem demora apareceram as cadelas Shakira e Leona em disparada, afoitas por carinhos; rodeando pai e filha externando toda gratidão que sentiam por eles.Era sempre assim, chegavam eufóricas, mas em seguida acomodavam-se como se soubessem a importância do momento; costumavam deitar uma ao lado da outra;ofegantes aguardavam o término da oração.

Ao encerrar a sua conversa com o criador,Agostinho se virou,abaixou-se até a altura da pequena Sara; a abraçou, deu-lhe um beijo na testa e como de costume estendeu a mão direita estimulando a pequena menina a "tomar benção"- hábito que herdou de seus pais e agora colocava em prática com seus filhos.

- Bênção pai !

- Deus te abençoe filha da minha alma !


Luis D`França

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