quarta-feira, 2 de junho de 2010

Terra de Padre Cícero é passagem obrigatória para candidatos

Denise Rothenburg - Correio Braziliense


Na terra em que a figura do padre Cícero Romão Batista está em toda parte, religião e política se misturam. Não existe um candidato a governador ou senador que não passe pela estátua ou pela capela onde o ‘Padim Cíço’ está enterrado. Foi o próprio padre que, em 1911, colocou política e religião sob o mesmo teto, ao se tornar o primeiro prefeito da cidade emancipada do Crato (CE).



Naquele tempo, bastava o padim apoiar e o político estava eleito. Foi assim, por exemplo, em 1921, com o deputado Floro Bartolomeu, que se lançou candidato a federal avulso, sem legenda, apenas com a chancela de Padre Cícero, famoso pelas romarias que congregava no Nordeste.



"A cidade de Juazeiro só cresceu por conta da importância política de Padre Cícero. No seu tempo, ele foi consultado e ouvido pelo presidente da República. Juazeiro tinha muito mais importância nacional", conta o deputado Manoel Salviano (PSDB-CE), que é da região do Cariri e na última semana recebeu o pré-candidato do PSDB, José Serra, para uma visita à cidade e aos militantes tucanos.



Hoje, no entanto, a população está mais ressabiada, separando mais as estações. "Hoje é assim: se vier no tempo de candidato, não vale nada", diz “seu” Luiz José dos Santos, 90 anos. "Seu" Luiz chegou a Juazeiro há 68 anos, de visita. Vinha de Pernambuco, da cidade de Belo Jardim, onde nasceu. O “padim apareceu e pediu que eu ficasse”, afirma ele, referindo-se a uma "visão divina".



Neste domingo, esse senhor é famoso pelas "rezas" que faz sobre a cabeça daqueles que o procuram na entrada da Capela do Socorro, onde está enterrado o Padim. “Em tempo de romaria, não dá nem para falar com ele. A fila é grande”, conta Terezinha Silva Santos, 64, que não faz a menor ideia sobre a existência de eleição este ano ou mesmo quem são os candidatos.



Outros tempos



A população da cidade hoje não se deixa levar pela mistura total de política e religião como naquela época, mas muitos, na hora do voto, consideram que tipo de fiel é um candidato. "Aqui, a pessoa dá muito valor à Igreja. Eu mesmo valorizo muito um candidato que tenha fé", comenta Maria Cilene Barbosa, trabalhadora rural aposentada, que daqui a 11 dias completa 79 anos. Ela ouviu falar da visita de Serra na TV, pela manhã, mas diz que ainda não escolheu em quem votará: “Na hora, a gente vê”, diz ela, que não está muito ligada no assunto. O artesão José Everaldo Vieira da Silva, 23, vai na mesma linha: "Nem sei quando tem eleição. É esse ano? Eu sei que tem Copa do Mundo", afirma.



A mesma população que não está nem aí para a eleição está de olho no Vaticano. O padre José Venturelli, responsável pelo horto onde está a estátua de Padre Cícero, fez parte da comissão que, em 2006, foi a Roma colher informações sobre o processo de reabilitação de Padre Cícero, que morreu em 1934 sem saber que estava excomungado pela Igreja. "Cometemos duas mancadas: a primeira foi não levar a Roma dados sobre como o estudo estava prosseguindo. E a segunda foi o vazamento de que iria chegar lá um grupo popular de pressão pela canonização, como um sindicato que iria fazer reivindicações. Portanto, não fomos bem recebidos", conta Venturelli.

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