quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Segunda é dia de Rute Santos no Crônicas&Companhia


É com imensa alegria que informo aos leitores deste blog que a partir de agora teremos uma contribuição extremamante valiosa da professora Rute Santos;uma coluna que será publicada com regularidade nesse noticioso.Toda segunda-feira teremos a oportunidade de saborearmos seus textos;em um menu bem variado...como o próprio nome do blog sugere – CRÔNICAS E COMPANHIA.A intenção  é trazer o que há de melhor desta jovem que é poetisa,cantora,escritora...Como falei anteriormente os temas serão variados e terão no conteúdo o ponto de vista da colunista...Sabendo das qualidades de seus escritos,tenho certeza que o tempo se encarregará de  criar uma certa cumplicidade entre a autora e você leitor...

É com prazer que lhes apresento Rute Santos !




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Autobiografia de leitor: revelando quem sou

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“Eu canto porque o instante existe e a vida está completa, não sou alegre, nem sou triste, sou poeta.”

                                                                                 Cecília Meireles

 Rute da Silva Santos 

s_rute@hotmail.com


             Eu sou feita de versos, às vezes com rimas, ricas ou pobres, outras vezes versos brancos; e por que não dizer, também, coloridos. É assim que sou. E “tenho em mim todos os sonhos do mundo” e nem sempre caibo neles, entretanto caibo nos versos do Pessoa. Ora clássica... ora concretista, mas sempre romântica e muita moderna. Um paradoxo poético! 

           Falar do que leio, é falar de poesia. A poesia está em tudo, depende de cada olhar. Cora Coralina escreveu que “Poeta não é somente o que escreve. É aquele que sente a poesia, se extasia sensível ao achado de uma rima à autenticidade de um verso.” Eu sinto, eu cheiro, eu respiro... até rabisco alguns versos, falo por melodias e arranho acordes para tocar a vida. Quando ouvi a Rita Lee cantar “Amor é prosa, sexo é poesia” pude compreender a profundidade do espírito poético, pois só a poesia pode traduzir as sensações carnais em linhas tão inusitadas de beleza, pureza, sentimento e sensibilidade.

         Não leio poema para distração, leio para alimentar-me dessa essência fascinante que as palavras podem carregar, não há melhor alimento para minh’alma. Na poesia me perco, nos poemas me materializo, sou uma realidade contida nos abstratos versos de felicidade e dor de inúmeros poetas. Ah! Fernando, Vinícius, Quintana, Camões, Florbela, Baudelaire, Gullar, Cecília, Álvares de Azevedo, João Cabral, os Andrades... muitos nomes que, aleatoriamente, me vêm à mente. São todos meus confidentes nas horas certas e incertas.  Renato Russo não encontrou a luz quando tudo estava perdido; nem sempre existe essa luz. E como ele, nem sempre também a encontro, mas encontro um livro, desses em que as poesias sabem tudo da gente e por horas a fio esqueço-me das “dores do mundo”. A poesia me liberta, por isso só há duas saídas quando me sinto aprisionada: ler poemas ou ouvir boas canções. É certo que isso é uma espécie de prisão, entretanto, nessa cela há aprendizagem de linguagens e de novas culturas; há voos, há cores, há sons... risos, choros, amores... amantes... vinhos, velas... pessoas e vida.

        Minhas influências de leituras foram de minha irmã mais velha, professora, que me levava todos os dias para sua sala de aula no contraturno das minhas aulas; eu era sua colaboradora aprendiz, isso por volta dos meus sete a nove anos de idade. Ela era meu exemplo de leitora e de tudo, minha segunda mãe.  Como recursos pedagógicos de leitura ela tinha apenas os livros didáticos e textos avulsos de narrativas e poesias. Paralelo a isso, eu lia as revistinhas em quadrinhos das minhas primas mais velhas, uma delas foi minha professora. Elas possuíam uma coleção invejável e tinham prazer em emprestar-me, eu adorava passar os fins de semana na casa delas para deleitar-me daquela coleção. A partir dos treze anos passei a ler também suas coleções de Sabrina e Júlia, às escondidas, pois ouvia dizer que era para gente adulta. Depois dos catorze, li “Escrito nas estrelas” de Sidney Sheldon, também de outra coleção delas e “Feliz ano velho” de Marcelo Rubens Paiva, esse último me marcou muito. Elas eram verdadeiras leitoras e consumidoras de livros, eu as admirava por isso. Eram referências para todos da família; ainda hoje são. 

        Minhas professoras e professores de Língua Portuguesa foram meus outros dispositivos para acionar o meu gosto pela leitura. A vida inteira fui mais aplicada nas aulas de português. Lembro-me da professora Glades na quarta série lendo um capítulo por aula de “Polyana moça”, aquilo me era cativante. Em outro momento frustrei-me ao descobrir que em “Alice no país das maravilhas” tudo não passara de um sonho; a leitura literária tem dessas coisas: sedução, encantamentos, surpresas e frustrações. 

          No Ensino Médio li os romances da literatura clássica que nos eram impostos para apresentar trabalhos ou fazer provas, eu gostava daquela obrigatoriedade, a professora deveria ter exigido e/ou influenciado muito mais, pois os que não li, por falha nesse processo, fizeram-me muita falta. Recordo-me de certa vez madrugar várias noites para concluir a leitura de “As pupilas do Senhor Reitor”. Todavia o que mais me encantou mesmo nas aulas de Língua e Literatura foi a poesia, quando a professora Rosa nos apresentou Camões. Nesta escola, diferente da que fiz o ensino fundamental, havia uma farta biblioteca, além de um bibliotecário jovem, leitor, lindo, atraente e que, como eu, gostava de poesia. Então passei a frequentá-la rotineiramente e li vários livros indicados por ele, desde poesias, romances, contos a livros históricos, como, por exemplo, Joana D’arc. Li até livros de psicologia, pois pensava algumas vezes em ser psicóloga, mas logo me decidi pelas Letras, principalmente porque a poesia era a minha primeira paixão e até hoje a número “um” dentre todas que tive e vivi e as que ainda estão por vir. 

Somos o que lemos e “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”, eu bem sei, Caetano tem toda razão. Cultivo essa paixão, constantemente, nas minhas aulas de Língua Portuguesa, para mantê-la viva e para oportunizar alunos e alunas a apaixonarem-se também.


Mestre em Letras, Especialista em Língua Portuguesa e Análise literária, graduada em Letras; professora das Redes Estaduais de Educação dos estados do Maranhão e do Tocantins.



4 comentários:

  1. Ah Rute,voltei no tempo agora 🥰🥰.Ainda tenho algumas dessas revistinhas e também as julias/biancas/sabrinas e Sidney Sheldon (maravilhoso) também.

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